Aproveita, daqui pra frente é só porrada

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1994 - Uma madrugada qualquer.

O monitor brilha no escuro, o som do modem discando corta o silêncio da noite. A conexão finalmente estabiliza e, ali, na tela verde de um BBS qualquer, o mundo se abre. Sem redes sociais, sem algoritmos decidindo o que você vê, sem lixo.

Apenas texto, listas de mensagens, arquivos para baixar, descobertas a serem feitas. Cada login é uma pequena aventura.

E no meio desse ritual solitário e sagrado, um hábito quase automático: levantar da cadeira, pegar um dinheirinho e sair na madrugada até o posto de gasolina 24h mais próximo. Naquela época, no Guará, Distrito Federal, loja de conveniência em posto de gasolina era coisa rara, mas aquele posto tinha uma vending machine de Coca-Cola. E lá estava ela, Cherry Coke, uma raridade por aqui. Comprar uma lata era um evento. Abrir e sentir o gosto meio artificial, meio viciante, era parte da experiência da madrugada.

O mundo estava quieto. A rua deserta. Só o brilho da máquina automática iluminando a calçada. Tomar um gole e sentir o gás subindo enquanto o frio da madrugada batia. Depois, voltar pra frente do computador e perder-se mais uma vez no oceano de texto e comandos. A internet ainda era para quem queria explorá-la, não para quem queria apenas existir nela.

E hoje? O que restou? As BBS desapareceram, substituídas por redes sociais vazias. O silêncio das madrugadas foi tomado pelo barulho constante das notificações. A Cherry Coke sumiu, como tantas outras coisas que pareciam banais na época, mas que hoje são relíquias de um tempo que não volta mais.

Se fosse possível abrir um telnet para 1994 e mandar uma mensagem para aquele garoto de 14, 15 anos, talvez ela fosse simples:

Aproveita. Daqui pra frente é só porrada.

Mas será que ele entenderia? Ou apenas daria um gole na Cherry Coke, digitaria mais uma linha na tela verde e continuaria vivendo sem perceber que, de fato, era agora ou nunca?

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